Ponte nas Ondas: Como chegas ao oficio de contar historias ?
Clara Haddad: Minha avó foi a minha primeira contadora de histórias e foi por ela que aprendi grande parte do que sei. Antes eu contava de uma maneira mais informal e intuitiva, em família , entre amigos pois não sabia que existiam narradores profissionais mas a partir de 1998 já assumia este ofício como uma profissão.
Os contos seguem a ser necesarios na sociedade da informação ? Qual é o seu papel ?
Os contos são importantísstimos pois mantém uma sabedoria ,e uma mensagem tão forte em sua essência que podem perfeitamente ser entendidos na sociedade atual, pois o ser humano continua sendo o mesmo, com seus receios, suas dúvidas, alegrias, virtudes…e os contos falam de vidas, de pessoas…
Creio que o papel fundamental dos contos é preservar a cultura e a história de um povo.
Que novas formas temos hoje de transmissao dos contos ?
Atualmente até podemos ver narradores de contos na internet! Existe de tudo um pouco, contos com dança, contos com música, exista quem conte histórias através de marionetes, e aqueles que mantém o que eu chamo “purismo”, isto é: contam somente através da voz, olhar e sua expressão corporal, sem nenhum outro recurso do que o seu próprio corpo.
Acredito que qualquer uma destas formas é válida desde que quem narra tenha realmente o conto presente e comunique sua mensagem . Se o conto se perder nos elementos e na forma apresentada de certeza não vai ficar no coração de quem ouviu e cairá no esquecimento.
De que forma a narrativa oral galego-portuguesa está presente no Brasil?
Esta presente nos contos populares, muitos elementos estão ali. Nesta “fusão”de culturas.
As cantigas, os ditados e lenguas-lenguas, as danças populares, as superstições e crendices, as festas marítimas…enfim existe todo um conhecimento que foi transmitido oralmente que passou de geração em geração e cruzou os mares perpetuando de alguma maneira tradições.
Achas que compartimos um património oral por riba das fronteiras dos países de língua portuguesa ?
Sem dúvida nenhuma! Cabe a cada um de nós tentar preservar e manter este patrimònio.
És a criadora da primeira “escola de narração oral” itinerante. Qual é a sua finalidade ?
A Escola de Narração surgiu do meu desejo de partilhar com as pessoas aquilo que aprendi no decorrer de minha vida enquanto narradora. É uma ideia que estava em mim desde 2005 mas que foi ganhando forma com o tempo. Havia, sem dúvida, uma grande necessidade de formação especializada, uma vez que muitas pessoas não sabiam bem o que era contar histórias nem que existiam narradores profissionais. A maioria das formações estavam encerradas no âmbito das bibliotecas ou iniciativas locais. Queria que todos tivessem acesso a esta arte, não só os que trabalham com livros e leitura profissionalmente mas todos aqueles que se emocionam com uma história, TODOS SEM EXCEPÇÃO!
Por que a escola deve ser o espaço da narração oral ?
Creio que acima de tudo é um espaço de partilha, de troca de conhecimentos e de afetos, de transmissão desta arte milenar que é contar histórias.
De fato a Escola pretende ser um lugar para construir novas possibilidades da arte narrativa no mundo contemporâneo.
Como devemos aprender a contar?
Na verdade todos nós somos capazes de contar histórias, o ser humano é um ser de comunicação!!! Necessitamos das histórias para manter viva nossas emoções e sonhos. Creio que devemos aprender a falar sem receios, sem insegurança, é isto o que muitas vezes impede que esta comunicação natural e partilha aconteça. O que proponho e acredito é que qualquer pessoa, que dedique tempo e estudo, tenha interesse e vontade de saber mais sobre a arte de contar histórias , pode vir a se tornar um narrador que se deixa levar pelo coração para contar aquilo que necessita comunicar ao mundo através dos contos.
Como é a tua relação com a Galiza ?
Eu adoro a Galiza, vou frequentemente para trabalhar ou passear pois tenho muitos amigos que vivem nesta região.
Tenho também um grande desejo de pesquisar mais sobre os contos de medo da região pois conheço alguns e fico fascinada.